As diferentes representações de passado na língua tétum
Keu Apoema Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), BRASIL
Realizando uma pesquisa, no município de Ainaro, cujo objeto era os processos de aprendizagem de lia na’in(s) durante o período da ocupação indonésia, deparei-me com a dificuldade de detectar marcadores de passado na fala de meus interlocutores sobre suas trajetórias pessoais, bem como sobre suas casas sagradas, fazendo-me questionar, por vezes, se seria possível constituir um discurso histórico. Observei, contudo, a partir da análise de aproximadamente vinte e sete horas de entrevistas em tétum, três categorias possíveis para pensar localmente a relação com o tempo: a primeira se refere à ancestralidade (o lugar das narrativas de origem), a segunda se relaciona com um tempo cíclico, que aconteceu, mas que ainda pode acontecer (supostamente sem mudanças) e, por fim, o tempo cronológico que aponta para os principais fatos da vida dos sujeitos, bem como para os marcos históricos do país. Cada uma dessas três categorias apresenta estruturas linguísticas específicas (como o uso de determinadas expressões, a presença ou a ausência de determinados marcadores). Logo, esta comunicação tem como propósito apresentar algumas análises preliminares desse corpus documental, tendo como objetivo não apenas indicar como cada uma dessas categorias aparece nas falas de meus entrevistados, mas ainda no sentido de apontar para os modos como circulam entre elas, transitando sem muitos impedimentos entre o passado ancestral, o tempo cíclico dos rituais e o compasso cronológico das narrativas individuais, comunitárias e nacionais. Pretendo ainda, atravessar o tema da continuidade e da mudança no contexto dos saberes tradicionais e seus respectivos processos de aprendizagem.
Keywords: tétum; passado; tempo; marcadores linguísticos