Memórias da Diáspora no Índico: trajetórias e narrativas da Resistência Timorense em Moçambique
Daniel De Lucca Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB), BRASIL
A proclamação de independência de Timor-Leste se inspirou e ocorreu na sequência das independências dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Estes reconheceram imediatamente a auto-determinação da pequena nação asiática enquanto a ex-metrópole não. Nos anos iniciais da ocupação indonésia, os Estados pós-coloniais africanos desempenharam papel fundamental no apoio material e na representação diplomática dos interesses nacionalistas timorenses em fóruns internacionais. Especial destaque teve Moçambique, que recebeu o terceiro maior contingente da diáspora timorense, ficando atrás da Austrália e Portugal. Naquele contexto, Samora Machel declarou “enquanto Timor-Leste não for um país independente a independência de Moçambique não estará completa” e, acolhendo oficiosamente os timorenses no exílio, Maputo transformou-se em quartel general da Delegação Externa da FRETILIN. Esta comunicação busca explorar a memória desta experiência, refletindo 1) sobre trajetórias e narrativas que cruzaram as duas margens do índico e 2) sobre as condições da comunidade diaspórica timorense que vivia a “revolução moçambicana” e era diretamente afetada pela guerra que se alastrava na África Austral. Parte de pesquisa mais ampla em curso, a apresentação se apoia na análise de entrevistas efetuadas em Maputo e se questiona sobre os desafios de se fazer trabalho de campo e arquivo em contextos multi-situados como estratégia para conectar micro-histórias à geopolítica da Resistência Timorense no Sul Global.