Variedade não-dominante (VND) do Português de Timor-Leste (PTL): construção e (re)estruturação
Hanna Batoréo Departamento de Humanidades - Universidade Aberta (DH-UAb), PORTUGAL; Centro de Linguística - Universidade Nova de Lisboa (CL-UNL), PORTUGAL
No caso do Português dos falantes de Timor-Leste (PTL), os estudos mais recentes (Holm, Greksáková & Albuquerque 2015; Afonso & Goglia 2015 e Batoréo 2016, 2018) apontam para a formação de uma variedade não-dominante (VND) de Português língua pluricêntrica (cf. Muhr et al. 2016), que se encontra num processo de construção em curso (denominado como “in the making” por Afonso & Goglia, 2015). Os autores acima mencionados apontam para, pelo menos, três tipos de características que podem ser consideradas recorrentes em PTL-VND: (i) as construções com os marcadores aspectuo-temporais do tipo ‘já’; (ii) a suspensão do verbo de ligação (especialmente no caso do verbo copulativo); (iii) o emprego da construção polissémica ‘é que’ (cf. Batoréo 2016). Consideramos que estas três características se devem ao contacto prolongado da Língua Portuguesa com as línguas austronésias (isto é, as línguas locais de Timor, como o Tétum, bem como a Língua Indonésia), que obriga o Português de Timor a uma parcial (re)estruturação da sua variedade (cf. Holm et al. 2015).
No presente estudo, e na senda da identificação das construções que surgem com a suspensão do verbo de ligação no discurso timorense, analisaremos a expressão de localização – existência – posse pelos falantes PTL-VND com recurso à suspensão ou manutenção do verbo de ligação, bem como à respectiva reestruturação em função das construções com ‘é que’, em Português, e ‘mak’, em Tétum.
O estudo baseia-se no corpus linguístico de PTL-VND, de Miranda (2016), constituído por entrevistas semi-estruturadas de uma amostra de 28 falantes adultos (20 homens e 8 mulheres, da faixa etárias dos trinta anos, metade com formação secundária e outra metade com formação superior), integrados como formandos num contexto de aprendizagem formal em Língua Portuguesa do curso de Oficiais de Justiça no Ministério de Justiça de TL. Provenientes de um meio plurilingue e pluricultural de TL, estes formandos fazem parte da geração que – maioritariamente – teve o Tétum e o Indonésio como línguas de instrução, pelo que contrasta, visivelmente, no seu uso linguístico com a geração anterior (hoje com aproximadamente sessenta anos), que recebeu a instrução formal em Português, antes da invasão indonésia em 1975 (cf. Batoréo 2009 e 2011).
Keywords: (i) Português língua pluricêntrica; (ii) variedade não-dominante (VND) de Português em Timor-Leste; (iii) construção e (re)estruturação de variedades de uma língua pluricêntrica; (iv) construções com os marcadores aspectuo-temporais; (v) suspensão do verbo de ligação.