Solidariedades através do Índico – histórias e trajetórias da frente externa Timorense em Moçambique durante a ocupação indonésia
Marisa Ramos Gonçalves Centro de Estudos Sociais - Universidade de Coimbra (CES-UC), PORTUGAL
No período da ocupação indonésia de Timor-Leste (1975-1999) o governo moçambicano destacou-se pelo apoio dado aos quadros timorenses da FRETILIN que viveram no país na área da formação universitária, mas também no apoio político e económico que prestou à resistência timorense na frente externa (Magalhães 2007).
Esta comunicação analisa as ligações desenvolvidas entre os movimentos nacionalistas de Moçambique e Timor-Leste e a história destes encontros, marcada pela solidariedade com o movimento pela independência de Timor-Leste a partir de 1975. Apesar da existência na literatura de breves referências (Magalhães 2007; Ramos-Horta 1987; Weldemichael 2013), não existem estudos que se dediquem à sua análise e enquadramento na literatura internacional quer sobre a história de Timor-Leste quer sobre o internacionalismo solidário e os movimentos de libertação.
Partindo de um estudo sobre esta temática, que consistiu na análise de entrevistas realizadas nos anos de 2018 e 2019 com Timorenses que integraram a frente externa em Moçambique e na consulta de arquivos em Portugal e Moçambique, reconstituiu-se uma parte desta história de solidariedades. Seguindo as trajetórias pessoais destes Timorenses desde o seu país, passando por Portugal e outros lugares, este estudo tece as histórias de estudantes e quadros políticos da FRETILIN que testemunharam e viveram transformações políticas e revoluções democráticas na Europa, lutas pela libertação em países africanos e asiáticos, que participaram na construção de um novo país, Moçambique, e que trouxeram, por fim, essas experiências para o novo desafio de construir a nação independente Timor-Leste.
Os objetivos principais desta comunicação são resgatar a história da solidariedade intensa entre os povos de Moçambique e Timor-Leste e compreender de que forma a circulação de pessoas e ideias entre lugares unidos por circuitos de intercâmbios e aprendizagens se constituiu como fundadora de princípios e valores comuns no futuro pós-colonial destes países.