A reação de Portugal à invasão de Timor-Leste: entre um regresso à força e a internacionalização do problema (1975-1976)
Zélia Pereira Centro de Estudos Sociais - Universidade de Coimbra (CES-UC), PORTUGAL
A invasão de Timor-Leste pela Indonésia, em dezembro de 1975, não constitui uma surpresa para a comunidade internacional e para as autoridades portuguesas. No entanto, a invasão do último território a descolonizar por Portugal, após falhadas as tentativas de entendimento com as forças políticas timorenses, colocava em causa um princípio que inspirara o processo de descolonização português: que a solução política final respeitasse a vontade expressa dos povos.
Se noutros territórios, como Angola, também a solução final não foi a acordada com os movimentos políticos locais, em Timor, a intervenção de uma nação estrangeira, como a que empreendeu a Indonésia, chocava, pelo menos, com a aparência de coerência com os princípios da descolonização. Importava enfrentar a realidade de modo a “salvar a face”.
As autoridades portuguesas irão considerar várias hipóteses, procurando fórmulas para obter uma definição política consensual com a vontade do povo timorense, e salvaguardar princípios, sem descurar o problema dos militares portugueses que ficaram prisioneiros no território.
Entre as abordagens das autoridades portuguesas, referiremos o caso de um malogrado plano de reocupação de Timor pela constituição de uma força especial militar, envolvendo os três ramos das Forças Armadas portuguesas, e o esforço para manutenção de meios navais portugueses na região, que se prolongou até maio de 1976. Estes aspetos serão articulados com o que foi a opção política pela internacionalização do problema, que se consolidou, definitivamente, no verão de 1976.