A reprodução de saberes em tempos de moeda: um estudo sobre a produção das estátuas de Ataúro para o mercado turístico
Ana Carolina Oliveira Universidade de Brasília (UnB), BRASIL
O conhecimento envolvido na produção de artesanatos considerados tradicionais e ancestrais na região da ilha de Ataúro, em Timor-Leste, tem estado no foco de diferentes agentes de governança no propósito de potencializar a produção desses objetos para o “desenvolvimento econômico” nacional. Com a intenção política de transformar Ataúro em uma importante região turística do país aumentando a receita nacional e local, organizações não-governamentais, Estado e as próprias comunidades tem se engajado na reprodução desses artesanatos que são trocados por dinheiro no mercado turístico. A qualidade de símbolo nacional e de mercadoria turística que vem sendo agregada a esses objetos possibilita às populações novos arranjos e possibilidades reprodutivas.
Pretendo discorrer sobre o engajamento desses saberes e das populações na produção para o mercado turístico nacional, questão que pode ser facilmente percebida no contexto do suku de Makili, em Ataúro, onde o Sr. Marcos Pacheco – artesão que acompanhei em 2017 durante o campo –, produz suas estátuas. A análise tem o enfoque nas estratégias de distribuição do recurso monetário advindo da venda dessas estátuas. Partindo do pressuposto de que o cenário econômico em Timor-Leste é constituído por uma pluralidade de lógicas e regimes, espero demonstrar como a prática de reprodução dos saberes presentes na feitura das estátuas, mediante a troca destas por dinheiro, tem possibilitado novas dinâmicas e negociações para a organização social local. Tal análise nos possibilita repensar conceitos como riqueza e investimento tão mobilizados pelos agentes de governança para potencializar o engajamento desses saberes no mercado.