Lareira Sagrada centro purificador e regenerador do fluxo de vida na cultura timorense
Irta Sequeira Baris de Araújo Universidade Aberta (UAb), PORTUGAL; Departamento de Ensino da Língua Tétum - Faculdade de Educação, Artes e Humanidades - Universidade Nacional Timor-Lorosa'e (DELT-FEAH-UNTL), TIMOR-LESTE
Miguel Maia dos Santos Instituto Nacional de Linguística - Universidade Nacional Timor-Lorosa'e (INL-UNTL), TIMOR-LESTE; Faculdade de Letras - Universidade de Lisboa (FL-UL)
Neste artigo pretende-se abordar a importância da ‘lareira sagrada’ na cultura timorense, nomeadamente os sentidos de purificação e de regeneração do fluxo de vida. Argumentamos portanto que a expressão ‘lareira sagrada’ não se deve confundir com as palavras inglesas hearth (lareira), mas poderá ser útil antes invocar a palavra heart (coração). A lareira sagrada ou em tétum “ahi-matan lulik” não é uma lareira qualquer, pois simbolicamente representa os dois universos do ser humano: “ahi-feto – lareira mulher” e “ahi-mane – lareira homem”, Tratam-se de lareiras dos antepassados que no seu tempo fizeram existir uma “ahi-matan – lareira” como porta de acensão da vida e alimentação do corpo. Uma lareira sagrada realmente põe coração numa casa (Kingston, 1996). Esta associação do coração da casa e o local onde se cozinha é muito revelador na compreensão das questões culturais: “fazer-cozinhar” ou usar-se a lareira para cozinhar qualquer coisa. Julgamos oportuno refletir sobre como em Timor-Leste como em contextos hindus por exemplo o lugar onde resplandece o fogo sagrado é considerado como porta da mãe-divina, a fonte onde tudo tem origem, e fazer oferendas que sejam assadas ou cozinhadas é uma forma de devolver tudo o que foi recebido. Nesta comunicação daremos um contributo para considerar este significado das casas sagradas timorenses, pois junto da lareira sagrada se realiza também a cerimónia ritual.