Konferénsia Internasionál TLSA-PT

Timor-Leste:Rai-kotun no Raiklaran

7 – 11 Setembru 2020Konferénsia Online

A importância do conceito de Pedagogia Decolonial na formação de professores de ciências da natureza

Suzani Cassiani Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica - Universidade Federal de Santa Catarina (PPGECT-UFSC), BRASIL

O novo Currículo Nacional de Timor-Leste (CNTL), do primeiro e segundo ciclo, tem como um dos seus princípios básicos a “Ligação à cultura e aos modos de vida local”, refletindo “o patrimônio nacional da nação através do reconhecimento do contexto político, geográfico e histórico e como estes aspetos contribuem para a diversidade cultural e linguística de Timor” (p.19). Mas como isso funciona no currículo das Ciências Naturais?
Em estudos anteriores, evidenciamos efeitos de transnacionalização de currículo com diferentes graus de intensidade, decorrentes das atividades de cooperações internacionais. Esses parceiros implementaram um projeto de currículo incluindo os manuais didáticos para as Ciências Naturais para todo o território timorense. Essa importante implementação curricular, contudo, teve pouca participação de professores timorenses e os conteúdos acabaram sendo estruturados com base em contextos alheios aos de Timor-Leste. Nesse sentido, a falta de temas locais acabava remetendo para realidades outras, silenciando aspectos importantes da cultura e dos conhecimentos históricos de Timor. O resultado dessa tentativa de transferência de saberes de um país considerado “mais desenvolvido”, muitas vezes vai além das dificuldades de compreensão dos fenômenos, pois pode representar novas formas de colonialidade, que acabam por subalternizar o povo timorense, imprimindo modos subjetivos de sentir, o que pode ser interpretado como ação de imprimir um padrão de conhecimento europeu como forma única e mais correta.
Certamente, é um avanço para o país que esse novo currículo venha enfatizar novos olhares sobre a educação, já que a proposta deste é ligar-se à Constituição da RDTL, a qual expressa a importância do patrimônio cultural: “Todos têm direito à fruição e à criação culturais, bem como o dever de preservar, defender e valorizar o património cultural.” (artigo 59.5). Mas quais os sentidos sobre vida local para a área de ciências da natureza? Como podemos propor uma formação de professores que dialoguem com pedagogias decoloniais?
Assim, o objetivo dessa reflexão é compreender como o currículo aborda essas questões na área da educação em ciências da natureza, bem como compreender quais elementos podem contribuir para a construção de práticas interculturais e saídas emancipatórias na construção do currículo e formação de futuros professores, visando a preservação do patrimônio cultural local e ancestral, o reconhecimento de novos conhecimentos e tecnologias sociais, com o objetivo de servir de forma dialógica à integração entre passado, presente e futuro, tanto em âmbito local, quanto mundial.